Pensando Psicologia
- Alayde Mestieri
- 31 de jan. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 9 de fev. de 2024
Às vezes me perguntam: “Qual é sua linha de tratamento?” ou” Que linha você segue?” Fico tentando responder e sinto que não dou a resposta satisfatória.
Resolvi pensar sobre isso, fato que ocorre naturalmente durante os atendimentos.
Somos organismos vivos sujeitos as influências ambientais, familiares, sociais, pessoais, religiosas, comunitárias, políticas, fisiológicas e fatos recorrentes.
Todos esses fatores formam um sistema único em cada indivíduo. Percebemos de modos diferentes um mesmo fato. Vemos de acordo com nossas experiências pessoais. O nosso corpo físico é um Universo paralelo recebendo influências de maneiras diversas em cada pessoa.
Formamos um sistema único e somos individuais. A física quântica admite que o Universo é constituído de possibilidades e somos possibilidades. É a física das possibilidades.
Seria ótimo possuir uma “receita” que servisse para todos, porém a matéria não é previsível, não é máquina, e não podemos controlar. Queremos o controle, mas precisamos ser criativos. Somos seres biológicos e únicos.
Não é necessário existir uma localidade. O antes pode entrar no depois e o depois não pode entrar no antes. Então, como a pessoa interage com o si mesmo e com todas as possibilidades sociais?
Escolhemos os significados que já estão em nós. O adoecer se dá de fora para dentro.
Prefiro entender as pessoas como seres biopsicossociais. Sinto que minha formação inicial como Assistente Social teve uma grande influência na maneira como vejo o mundo e na atuação profissional.
No meu entender fica difícil ajudar alguém a encontrar caminhos dissociados do seu mundo lá fora. A “quadratura” do consultório limita. O lá fora existe e está nele. O cliente não pode ser analisado desvinculado do sistema.
É muito importante e necessário termos conhecimento de todas as “linhas” e escolas de Psicologia. Todos os grandes filósofos, pensadores, médicos, cientistas do comportamento, contribuíram e contribuem muito para enriquecer nossa atuação. Freud, Jung, Reich, Lacan, C. Rogers, F.Perls, M. Klein, Piaget, existe uma infinidade de “linhas” de pensamento importantes, só citei alguns, poucos que me vieram na memória.
Cada cliente chega ao consultório com uma queixa, essa questão é única para aquele indivíduo, embora possa ser “parecida” com a do outro. Para cada atendimento devemos ter um “feeling”, e perceber o que realmente o está perturbando, de que maneira esse fato o está afetando, o quanto isso é difícil para ele e o que está por traz disso. Quais são as influências?
Esse mundo de fora, agora dentro do consultório é formado por um sistema de crenças e valores único. Somos um sistema inserido dentro de outro sistema.
Existem pessoas que chegam com a necessidade de falar, outras são contidas e demoram para adquirir confiança para se comunicar. Assim, a adequação e o desenvolvimento das sessões vão sendo configurados e determinados pelo próprio cliente de acordo com as necessidades emergentes.
Não é possível (no meu parecer) atender usando um único modo de observar o cliente. Não é possível desvincular a pessoa do seu meio, da família, da comunidade, da religião, etc.
Ser terapeuta é ser flexível, ver os fatos com os olhos da alma, é enxergar além dos fatos e entender a essência da queixa.
No meu parecer, posso “ser tudo” e ser psicóloga, não ter rótulos para poder “ser nada” e estar aberta ao tudo. Não gosto de rótulos é limitante. Se sou “isso” não posso ser “aquilo”. Se vou por um caminho e percebo que ele não é bom, não estou obtendo resultados satisfatórios quero ter a liberdade de escolher outro mais adequado para a situação.
Assim, atendo com sucesso desde 1 985. Deu certo e continuo aberta as novas descobertas e possibilidades. Tudo é somado, continuo aprendendo com meus clientes e com o mundo!
Quando estava cursando Psicologia, ficava encantada com cada nova teoria aprendida. Tudo me fascinava! É normal que tenhamos mais afinidade com uns mais do que outros. Optamos por pesquisar, ir mais a fundo em algumas teorias mais que outras. Porém existe o somatório de informações e sempre, sempre, temos um novo aprendizado agregado ao que achávamos ser único e irrefutável.
Inicialmente estudei Freud profundamente e Jung também. Quando conheci a teoria Reicheana achei o máximo! Ali estava o homem que havia compreendido o além da alma. Procurei fazer cursos de especialização em terapias corporais. Participei de vários congressos Reicheanos e conheci o Dr. Angelo Gaiarça, tive a honra de tê-lo como professor em cursos e seminários. Procurei ler A. Lowen e tudo que dizia respeito ao desbloqueio de “couraças” adquiridas.
Posteriormente, quando já havia terminado a faculdade, aprofundei-me em Gestalt terapia e psicossíntese. Lia muito os livros de F. Perls e Roberto Assagioli. É uma teoria realmente fantástica e funciona muito bem, para várias pessoas. Inicialmente não me simpatizava com o Behaviorismo. Porém, hoje, tenho estudado cognitivismo e percebi que é behaviorismo aplicado. Atualmente, a neurociência e a neuropsicologia, fez a ponte da psicologia cognitivista para o atendimento de pacientes com problemas cerebrais funcionais ou adquiridos. Não é minha área de trabalho, porém é necessário conhecer, para poder fazer o encaminhamento do cliente.
Estudando a física Quântica, notei a semelhança do pensamento quântico com a psicologia transpessoal. Assim, percebo que não é possível ser “ortodoxo” com tantas possibilidades de aprendizado, tudo agregado, tudo se completando.
Que tal darmos o “Salto Quântico” e estarmos abertos para novos aprendizados?
Tenho hoje, uma tendência para a Gestalt e a Psicossíntese. Na minha formação inicial, como Assistente Social, trabalhei muito com grupos. O As. Social usa muito pouco o enquadramento do consultório. Somente o utiliza na entrevista inicial e na anamnese.
Posteriormente formam-se grupos de orientação. Nessa época na década de 70, estudei psicodrama e li a teoria de J.L. Moreno, um psiquiatra romeno que utilizava a representação e a criatividade em grupos de cura. Nessa época fui colaboradora de grupo do Dr. Paulo Gaudêncio que me ensinou muito sobre atendimento grupal.
Assim, percebo que todas as teorias aprendidas são válidas, excelentes colaboradoras.
Agradeço aos meus professores e aos livros que pude ler. Acrescentaram aos meus atendimentos vários caminhos, adequando ao cliente a possibilidade de solução.
Devemos pensar como a Alice, “Até onde podemos descer no buraco do coelho?” Carregamos a família de origem dentro de nós! Queiramos ou não! Constato isso diariamente. Nosso corpo possui memória celular.........Entramos no campo da epigenética, e assim vai...
“Gestalt é antes uma prática pessoal, uma forma de vida, do que uma “terapia” profissional ou uma “cura”. É algo que se faz com os outros e não para os outros”.
Antes de tudo devemos observar a ética profissional e termos a humildade de sabermos das nossas limitações. Por mais que tenhamos nos esforçado às vezes não obtemos o resultado desejado, depende muito de paciente para paciente.
Assim como, não temos simpatia por algo pode acontecer do seu cliente precisar do serviço de outro profissional, que atenda melhor aquele caso. Devemos pesquisar sempre o que é melhor para aquele paciente em particular.
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