OUVINDO A "PASTORAL"

Certa vez, alguém me perguntou: "O que você desejaria ser, se não fosse gente? Bicho não vale".

De pronto me veio a idéia, não pensei para responder, "Gostaria de ser um encadeamento harmônico de sons...Uma sinfonia!"

Eu sabia o porque de tão presunçosa idéia; talvez o desejo de ser admirada e ouvida por muita gente, a vontade de ser imortal nessa vida terrena, ser mais emoção do que descrição, não sei bem…

Depois, bem, depois, fiquei pensando na pergunta e me veio na cabeça o quão lindo seria ser uma sinfonia.Para que eu nascesse seria preciso um pai que possuísse extrema sensibilidade.Meu pai teria de ser capaz de ouvir os sons da natureza e sentir o amor. Por pai eu teria Chopin, Bach ou talvez Bethoven. Minha mãe seria a Vida.

Meu pai para me conceber, entraria na freqüência dos duendes e das fadas, ouviria o movimento produzido pelas águas dos riachos, escutaria a tempestade, passaria dias e noites pensando em mim…

Enquanto eu estivesse sendo gerada, a vida dele seria dedicada só a mim. Ele ficaria noites acordado ou então acordaria na madrugada para fazer-me lentamente...

Ele entraria em contato com o Universo e revelaria o elemento divino do humano. Expressaria toda a sua interioridade por meio dos sons, todos os sentimentos mais pessoais, os matizes da alegria, da serenidade, do júbilo e da fantasia. Assim como, todos os graus da angústia e tristeza. Eu seria a forma pura dos seus sentimentos.

Para fazer-me nascer, ele teria que ter a capacidade de ouvir sons que ouvidos humanos comuns nunca escutaram.Meu pai e minha mãe ,Vida, sofreriam e vibrariam em uníssono por mim.

Eu nasceria lentamente até fazer-me Sinfonia. Nesse dia meu pai eufórico e feliz com meu nascimento, apresentar-me-ia para o mundo. Para que 0 mundo me conhecesse materializada, seria preciso uma orquestra, vibrando e sentindo um pouco do que meu pai sentiu para criar-me solitário.

Após o nascimento, eu e minha mãe, faríamos parte uma da outra e juntas caminharíamos por toda a eternidade....